segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Venda de milagres

Estado de Minas 03/08/09

Sylvia Romano - Advogada trabalhista

Um tribunal da Suíça indiciou um brasileiro por extorsão e outros delitos. O julgamento deverá ocorrer até o fim deste ano. O crime dele foi a realização de trabalhos espirituais, na condição de pai de santo, figura muito popular no Brasil. No país europeu, essa prática é autorizada, bem como a cobrança em dinheiro, que também é amparada pela lei. “Existe o direito de cobrar para prever o futuro. Mas o problema é quando o montante cobrado não tem relação com a prestação do serviço ou quando o mago explora a fraqueza de suas vítimas”, afirmou o juiz de instrução Jean-Luc Mooser, encarregado do inquérito. O brasileiro está sendo denunciado por três de seus clientes, sob a acusação de ter extorquido milhares de francos. Se for condenado, poderá pegar cinco anos de prisão, por usura e extorsão. Enquanto isso, no Brasil, diversos vendedores de milagres prosperam a olhos vistos. Basta ligar o rádio e logo ouvimos mensageiros divinos prometendo mundos e fundos para milhares de incautos, não só nesta vida, mas também em vidas futuras. Na televisão, então, nem se fala; alguns dominam praticamente todos os horários em certos canais, prometendo curas milagrosas, mudanças de comportamento, fortunas, acabar com homossexualismo, trazer amores de volta etc.; enfim, passam aos menos avisados que são mais poderosos que Deus. Pedem e pedem muito, não para seus “cordeiros”, mas para si próprios, em nome da Bíblia, para suas plateias eletrônicas, a quem chamam de “povo de Deus”. Elegem políticos, o que lhes pode garantir no futuro a perpetuação das suas falcatruas; compram autoridades que vão permitir que suas igrejas e templos, a maioria irregular e sem segurança, continuem abertos – para o desespero dos vizinhos que têm de aguentar suas lenga-lengas ininterruptas e em altos brados; e, principalmente, ficam cada vez mais ricos e poderosos. Alguns emitem até carnês de doações, pedem e pedem o tempo todo – e ai de quem não contribuir, pois a estes reservam o pior castigo, o fogo do inferno. O Brasil é um país laico, mas, do modo que as religiões estão se fortalecendo, daqui a pouco começaremos a ter uma guerra de crenças, não em razão de doutrinas, mas muito mais em função do fator econômico e da ignorância dos fanáticos incultos, que fazem desses profetas seus novos deuses. Se qualquer seguidor dessas novas religiões tivesse um pouco de bom senso e o mínimo de discernimento, veria que o que anda melhorando e muito não é a vida deles, mas a desses atuais mercadores dos templos. Toda vez que, por descuido, acesso um programa desse gênero no rádio ou na TV, relembro um velho ditado que sempre ouvia na minha infância: “É preciso que haja um bando de trouxas para que o ladino possa sobreviver”. E, infelizmente, parece que os trouxas andam aumentando em muito o seu número ultimamente.

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