Somos prisioneiros das nossas crenças, que se formam desde a infância
Armando Correa de Siqueira Neto, Psicólogo, consultor em gestão de pessoas, mestre em liderança pela Unisa Business School
A porta de entrada da prisão pode ser também o acesso à saída. Quem por ela entra um dia noutro pode sair. Ou não. Na maioria das vezes, permanecer preso é uma circunstância pesarosa e desanimadora. Desde há muito tempo, o ser humano se depara com a detenção, maneira encontrada para conter as ideias e os comportamentos indesejáveis socialmente num dado período da história. Para que a convivência prosseguisse nas diferentes sociedades, foi preciso estabelecer o controle para a contenção daquele que se opõe às regras do jogo cujas cartas são dadas por uns poucos que pretendem conduzir muitos outros. Revela-se, pois, o primitivismo no qual o homem ainda se encontra no gráfico da evolução. Não obstante, é possível analisar a prisão de outro modo, considerando-se não apenas a dimensão física, mas a psicológica também. Somos prisioneiros das nossas crenças, que se formam desde a infância. As experiências são rica fonte de informação que culminam nas convicções pessoais, que podem, por conseguinte, permanecer conosco por tempo indeterminado, ou mudarem, cedendo espaço a outras mais convenientes. Até um período da vida, podemos crer numa dada ideia, a partir dali, por razões variadas, ela pode enfraquecer e perder o seu sentido original. As novidades ganham terreno em razão de recentes e íntimas conclusões. O que era verdade absoluta numa época deixa de sê-lo noutra. Para exemplificar o aprisionamento psíquico a que nos submetemos (sem a devida percepção), vale a pena destacar, entre incontáveis outros aspectos, a submissão e passividade ante os indecentes acontecimentos políticos, cuja empobrecida justificativa tenta alegar falta de poder sobre a questão: “O que é que se pode fazer sem força?". Por acaso a população se esquece de que foi justamente a sua força e poder que elegeram cada político como seu representante? Afinal, que paredes aprisionam o cidadão, impedindo-o de organizar movimentos moralizadores de cobrança ou análises criteriosas que impeçam o acesso de velhas raposas aos locais onde somente o bem comum deve prevalecer? Autoengano e acomodação? Logo, se nos trancafiamos numa espécie de prisão da qual nos parece impossível sair, é preciso rever a situação através da autoavaliação séria, profunda e frequente. A mesma porta que deu acesso a tal infortúnio encarcerador deverá servir como passagem à necessária libertação. Toda prisão tem uma porta. Eis o ponto de partida da reflexão libertadora que pode colaborar com as essenciais transformações de caráter pessoal e social. Manter-se alheio a si mesmo é ignorar que se pode ir além com maior autonomia e poder advindos da consciência sobre a intervenção que molda cada passo no avanço das relações sociais. Assim, pergunta-se: se lhe é possível forjar a chave da prisão psicológica que o prende ao desconhecimento e atraso, que razões o impedem de conquistar conhecimento, maturidade e liberdade?
Estado de Minas 01/08/09
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